TDC – Dispraxia ou Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação Motora

O Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC), também conhecido como dispraxia ou Developmental Coordination Disorder (DCD), é uma condição que afeta de forma significativa a coordenação motora, interferindo no desempenho escolar, nas atividades diárias e nas interações sociais de crianças e adultos.

Apesar de relativamente comum, ainda é pouco compreendido pela sociedade, resultando em diagnósticos tardios e oportunidades perdidas de intervenção precoce.

O que é TDC/Dispraxia

O TDC é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a coordenação motora fina (uso das mãos e dedos) e grossa (movimentos amplos como andar, correr, pular).

Segundo o NHS Health (Reino Unido), a criança com TDC tende a apresentar desempenho motor inferior ao esperado para a idade e pode se mover de forma desajeitada.

Estima-se que o transtorno seja 3 a 4 vezes mais comum em meninos do que em meninas e atinja de 5% a 6% das crianças. Sem tratamento, até 75% mantêm dificuldades na vida adulta (Journal of Developmental Medicine & Child Neurology, 2022).

O Instituto Neuro Saber descreve que o TDC pode limitar atividades como:

  • Agarrar uma bola;
  • Andar de bicicleta;
  • Amarrar sapatos;
  • Cortar alimentos;
  • Escrever;
  • Descer escadas;
  • Praticar esportes escolares.

Essas dificuldades podem gerar frustração, isolamento social, baixa autoestima e, em alguns casos, quadros de ansiedade ou depressão.

Impactos no contexto escolar

No ambiente educacional, o TDC pode:

  • Interferir na escrita e no uso de materiais escolares;
  • Prejudicar a participação em aulas de Educação Física;
  • Tornar mais difícil acompanhar atividades em grupo;
  • Afetar a organização e a gestão do tempo;
  • Influenciar na autoestima e nas relações com colegas.

A intervenção escolar adequada, alinhada à família e a profissionais de saúde, é essencial para minimizar esses impactos e favorecer a aprendizagem.

Causas e fatores de risco

Ainda não existe causa única conhecida.

A dispraxia parece resultar de interrupções na forma como o cérebro processa e envia comandos motores ao corpo.

Fatores de risco incluem:

  • Nascimento prematuro;
  • Baixo peso ao nascer;
  • Histórico familiar de dificuldades de coordenação.

Importante: a dispraxia não é causada por lesão cerebral ou doença e não está relacionada à inteligência, embora possa impactar habilidades cognitivas.

Sinais e sintomas

A presença de vários dos sinais abaixo pode sugerir TDC:

  • Atraso para sentar, engatinhar ou andar;
  • Dificuldade em correr, pular, pegar ou arremessar;
  • Movimentos lentos, hesitantes ou desajeitados;
  • Necessidade de instrução explícita para habilidades físicas básicas;
  • Tropeços e quedas frequentes;
  • Escrita lenta, imatura e com má pega no lápis;
  • Dificuldade para se vestir, amarrar sapatos ou usar talheres;
  • Má compreensão de conceitos espaciais (em cima, embaixo, atrás…);
  • Problemas para manter amizades ou se comportar socialmente;
  • Baixa autoestima e ansiedade;
  • Dificuldade de concentração;
  • Problemas para seguir instruções;
  • Dificuldade para organizar materiais ou administrar o tempo;
  • Tendência a perder objetos com frequência.

Diagnóstico e avaliação

O diagnóstico formal é fundamental para garantir o suporte adequado.

Geralmente, não é feito antes dos 5 anos, mas sinais precoces podem ser identificados, especialmente em casos com atraso de fala e linguagem (por fonoaudiólogos).

Passos recomendados:

  1. Observação familiar no dia a dia (vestir-se, escrever, comer, brincar).
  2. Feedback dos professores, especialmente de Educação Física.
  3. Encaminhamento médico para avaliação especializada.
  4. Avaliação multidisciplinar com pediatra, neurologista, terapeuta ocupacional e/ou fonoaudiólogo.

O diagnóstico preciso é importante porque sintomas de dispraxia podem se sobrepor a condições como TDAH, TEA, transtorno de linguagem do desenvolvimento ou paralisia cerebral.

Intervenção e suporte

O tratamento é individualizado e pode incluir:

  • Terapia ocupacional para habilidades motoras e de vida diária;
  • Fisioterapia para coordenação e força;
  • Fonoaudiologia em casos de dispraxia verbal;
  • Adaptações escolares (tempo extra para atividades, uso de recursos adaptados, apoio individualizado);
  • Atividades lúdicas que desenvolvam coordenação (natação, dança, jogos específicos).

A participação ativa da família e da escola é essencial para reforçar as estratégias aprendidas em terapia e promover autonomia.

Dados e pesquisas recentes (2023–2025)

  • Prevalência global: cerca de 5 a 6% das crianças em idade escolar apresentam TDC (European Journal of Paediatric Neurology, 2024).
  • Associação com saúde mental: crianças com TDC têm risco 2x maior de desenvolver ansiedade ou depressão (Developmental Medicine & Child Neurology, 2023).
  • Importância da intervenção precoce: programas iniciados antes dos 7 anos mostram redução de até 40% nas dificuldades motoras (Pediatric Physical Therapy Journal, 2023).

Conclusão

O Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação é uma condição real, complexa e que exige atenção precoce.
Quanto mais cedo for identificado e tratado, maiores as chances de minimizar impactos na aprendizagem, no convívio social e no bem-estar emocional da criança.

No ambiente escolar, professores e equipe pedagógica têm papel-chave: observar, registrar e encaminhar.

Em parceria com a família e especialistas, é possível oferecer suporte efetivo, garantindo que a criança desenvolva todo o seu potencial, dentro e fora da sala de aula.